Estado da entrada: “privado”

semi1.jpg   Ao longo de quase 3 anos escrevinhei sem tino nem vergonha tudo o que à caneta se assomou. Depois, aos poucos, a inibição  sobreveio, e quando dei por mim tinha dois blogs: aquele que aqui se vê, e o outro, cujos post’s estão em rascunho nos confins desta coisa. Descubro agora por mero acaso que esta plataforma do wordpress permite publicar post’s “privados”. Não é simpático o que confesso, mas não consigo disfarçar que me faz mais desenfreado saber que posso assumir pela escrita as coisas que me incomodam, que as posso até publicar, e ainda assim, escondê-las dos vossos olhos. 

De certo modo esta funcionalidade de filtragem torna este blog extraordinariamente parecido com a minha vida. Tal como nela, posso agora aplicar uma película de invisibilidade a cada traço ou acto meu que não ouse partilhar. Posso agora modelar aquilo que quero parecer e extasiar-me ao escrever em privado os meus defeitos e achaques, como se cumprisse arrependimentos sem que ainda assim tenha de os reconhecer.

É entusiasmante, mas é também algo demasiado voraz essa avidez com que pela nossa escrita vamos destapando partes de nós, que desconhecemos, ao mesmo tempo que os outros, por cima dos nossos ombros, nos (as) lêm.  Agora, Poderei continuar a escrever ‘liberto’ mas já não terei de me ‘descarnar’ em público. E se um dia isto acabar por me parecer mero exercício entrapado, como aquele com que nos ocupamos a mostrar/esconder-nos na realidade dos dias comuns, não hesitarei em reconhecer que este blog se transformou efectivamente numa cópia enfadonha da minha vida, no que dela imprimo, e no que dela procuro esconder. Nessa altura terei de arranjar um novo confessionário … 

humm, o que será que se seguirá aos blogs neste exercício descarado da intimidade?


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