Enervam-me as personalidades engravatadas e sem defeitos de fabrico. Nem me custa sequer reconhecer que prefiro saber-me cheio de amolgadelas no meu carácter – fazem-me sentir mais autêntico e vulnerável – do que presumir-me habitar um personagem maquilhado do qual se torna inverosímil provir beijo ou açoite, riso ou arrelia.
E arrepia-me só pensar que alguém invista em fazer de si esse mero manequim onde esforçadamente esconderá todos os pedaços do seu temperamento que aparentemente se lhe revelem inúteis, improváveis ou incomodativos, enquanto com rigorosa e estudada disciplina vai soltando gestos e rasgos sensatos de um personagem fingido. Recuso absolutamente essa expropriação da nossa natureza e lamento por quem se sinta capaz de esconder meticulosamente a sua verdadeira essência em proveito de uma imagem, de um cargo, de reconhecimento ou status, de qualquer que seja o galardão que se lhe cole e que nunca intimamente lhe pertencerá.
Para além disso nada mais tenho contra as personalidades engravatadas e sem defeitos de fabrico. Apenas que me enervam, repito-o. Mas não é justo que sobre elas dobre com tal veemência a minha irritação. Já basta aos espantalhos terem de ficar ancorados no seu irrepreensível orgulho enquanto eu “levanto ferro e largo pano”, que já eu louco parto pelos esconsos da minha personalidade destrambelhada ainda eles aprimoram o risco ao lado, do peralvilho que fingirão. Mas também, que lhes importará tal sina se de tão preocupados em admirar o seu rasto nem a cabeça do chão ousarão levantar.
Ena, sinto-me bem melhor! Isto resulta mesmo
27 de Março, 2008 at 8:32 pm
:D catarse? ou catar-se?
GostarGostar
27 de Março, 2008 at 8:36 pm
a catarse não é justamente a cadeirinha onde um tipo se senta para catar-se? seja lá o que for é um anti-oxidante muito eficaz
GostarGostar
27 de Março, 2008 at 8:59 pm
Finalmente “dei a este teu porto”.
Concordo… sabes.. talvez diga de maneira mais correcta, sabem… pq o número de leitores, pelo que me disseram, é vvvvvvvvvasto e iiiiiiiiiiinteressado.
Esse pessoal da gravata…parece que saem de uma linha de montagem da camisaria moderna ou da maconde … e disso sabes tu, meu McGiver… todos eles podem trocar de gravata que pouco mundam…
Agora os que andam de tshirt…e eu sei um pouco disso…já uma mera troca de idumentária pode levar a uma transformação.. não referindo que as minhas camistas te servem… já as tuas….dificilmente.
GostarGostar
27 de Março, 2008 at 9:18 pm
«[…]lamento por quem se sinta capaz de esconder meticulosamente a sua verdadeira essência em proveito de uma imagem, de um cargo, de reconhecimento ou status, de qualquer que seja o galardão que se lhe cole e que nunca intimamente lhe pertencerá».
Todas as fachadas de personalidade são de pouca dura… basta simplesmente dar de beber em dose excessiva ou irritar os seus proprietários e a sua natureza original virá à superficie.
GostarGostar
28 de Março, 2008 at 10:39 am
Tudo o que é material é efemero ( bem, excepto alguns livros, quadros etc)… mas sabem do que estou a falar!! Enquanto o interior sendo curioso está sempre a aumentar, a baralhar e a mudar, em suma a enriquecer.
GostarGostar
28 de Março, 2008 at 11:13 am
Joni, este sítio é mero escolho da internet, emigrado de outro. Raros são os marinheiros que como tu lhe dão à costa… disseram-te mal, muiiiito mal.
E será que ainda a têm (a natureza original)? blablahblah (é assim que se escreve? :)
Margarida, já eu não conheço solo mais efémero que a nossa interioridade. A não ser que consideremos a inconstância, a volatilidade e até as contradições que a preenchem um factor de continuidade, o que me custa aceitar. E para ser franco prefiro acreditá-lo (ao interior) em pulsões efémeras que em aridez eterna.
GostarGostar
28 de Março, 2008 at 4:30 pm
Sei que sabe que sim…
É claro, que facto de as pessoas adormecerem caracteristicas de personalidade não significa grande coisa. O carácter ou a falta dele, a natureza de cada um, é mais determinante que qualquer máscara [que, insisto, cai facilmente em situações limite].
GostarGostar
28 de Março, 2008 at 4:59 pm
Estou a falar em bases que sustentam a(o) nossa(o) personalidade/carácter essas não mudam tão facilmente/rapidamente, os nossos princípios… Nunca me passou pela cabeça aridez eterna, até pq referi mudanças.
GostarGostar
28 de Março, 2008 at 5:25 pm
‘desconcordo’ com as duas. e sem querer levar isto a teima mantenho que duvido que em muitos casos o caracter não seja mero instinto, ou nem isso, que esse já obriga a alguma orientação. a não ser que consideremos o proprio desacerto desses caracteres
como um traço personalístico em si, ou que a formulaçao de uma opinião, gesto ou rasgo de opinião tem por trás alguma direcção que não apenas a de, naquele instante pretender agradar ou desagradar aos outros.
está confuso, sei. tentar assim: não há em meu entender personalidade onde não há ‘fundura’, onde os nossos comportamentos se manifestam reactivamente ao que nos rodeia, onde tudo o que nos impele a ser apenas se referencia no que parecemos aos outros e não a nós.
balblahblah (sei que sabe que sei, mas até sem soletrar … enfim, nickemos então), o que ponho em causa é se em todos, se em alguns de nós, existe efectivamente uma verdadeira natureza própria, se há traços distintivamente nossos quando os nossos comportamentos são exclusivamente modelados para o ‘exterior’
GostarGostar
28 de Março, 2008 at 6:37 pm
Não deve haver exemplo melhor de personalidade teatral e integralmente construida em função de uma fachada que o inominável José Castelo Branco… socialmente só bebe Coca-cola light, porque sabe bem o que lhe acontece quando os vapores do alcoól lhe toldam as capacidades,lhe minimizam a arte de representar e lhe vem toda a genuinidade à superficie. Como ele, tantos outros.
Mas irritá-los tem mais graça, as pessoas quando estão irritadas dizem tudo o que recalcam, tudo o que invejam, despejam todos os rancores, todas as mágoas, todas as frustrações…
A ira, esse pecado capital, é sempre mais interessante e muito mais reveladora que o torpor melancólico das lamentações- Mas resultam ambos :)
GostarGostar
28 de Março, 2008 at 6:41 pm
Persona significa máscara como bem sabe, mas existe efectivamente uma verdadeira natureza própria em cada pessoa, por trás de qualquer e todas as máscaras de cada um.
Digo eu, claro :)
GostarGostar
29 de Março, 2008 at 1:50 am
*Se tivesse liberdade de escolher,
Escolhia um bom cantinho
Mesmo no meio do Paraiso:
Melhor ainda – cá fora, em frente à porta!
*esta merda é do Nietzsche!
GostarGostar
29 de Março, 2008 at 1:57 am
*Paraíso
é que o paraiso sem o “í”, como deve ser, não ecoa a PARAÍSO!
GostarGostar
29 de Março, 2008 at 8:57 am
Lamentavel, meu caro..
descobrir neste mundo cão que a “gravata engomada” é uma mera “burocracia” criada por alguns como a falta de uso da mesma em alguns casos seja exactamente a mesma burocracia.
Não vejo nem nunca senti tal como algo abominavel, destesto isso sim a mesma “burocracia” implantada neste mundo por Drs e Engºs que por emoldurarem canudos mais não são do que meros portadores de um pedaço de papel.
Uso a “gravata engomada” durante a semana e at-shirt no fim de semana. Penteio o cabelo durante a semana e despenteio, espeto e ponho gel ao fim de semana, mas seja como for sempre que me encontres terei a mesma personalidade, posso no entanto ter de a fazer desvanecer no meio dos “canudos emoldurados”
Espero ter interpretado bem.. é que ainda é muito cedo… o “puto” já me acordou…
Zé, Será que é na próxima semana que nos vemos?
Carcavelos, vou fazer uma festa em homenagem aos meus velhos tempos da noite ( Carcavelos)
GostarGostar