Há em todos nós uma pauta musical sobre a qual vamos suspendendo, por cada uma das suas cinco linhas, as nossas colcheias e semi-breves por diante da nossa clave de sol. Com cada uma dessas notas grafamos um momento, uma decisão, quem sabe até uma vitória importante que ousamos assinalar com a entrada vibrante de um clarinete. Ou talvez não.
As batidas e andamentos, qualquer métrica musical, são coisas para que raramente temos tempo. E a essa pauta carregamo-la tão desmazeladamente, tão sem ritmo e arte, que aquilo que deveria resultar na sinfonia da nossa vida – uma mesmo que breve composição das notas que fomos trauteando – sem compasso que as enquadre, sem andamento que lhes traga temperamento, sem adágios nem vivaces, resultará afinal numa tumultuosa e descompassada cacofonia.
As coisas, (inclusas as que mais nos orgulhamos), nada valem, só por si. Tal como as notas musicais, têm de ser aninhadas e entrelaçadas com esmero e pulsação, quando as queremos guardar em nós. De outro modo, tornam-se inaudíveis. E deixam de ser nossas.