a vez dos casacos à vez

Há pouco o Francisco foi a um concerto. Não ‘dos dele’ mas um dos ‘da avó’, desses que também gosta. Nos preparos, apesar dos ténis, incondicionais, notei-lhe esmero na camisa preta. Raramente lhe tinha visto tal zelo e por isso chamei-o ao quarto dos roupeiros e ofereci-lhe um dos meus blasers. Agitou-se nesse “que nem pensar” mas depois olhou-o melhor, era preto também, passou-lhe a mão, de veludo, e decidiu-se a experimentá-lo. Assentou-lhe melhor que a mim – engrossou-lhe o tronco, espaldeirou-lhe os ombros e ainda o fez mais alto. Encostei-me ao fundo e fiquei a vê-lo percorrer-se no espelho. (É curiosa essa idade em que subitamente nos podemos sentir surpresos com a nossa própria imagem). Quando se virou percebi imediatamente que tinha acabado de perder o meu casaco favorito. Depois a campainha tocou, eu disfarcei o enternecimento da despedida, ele saiu e a porta fechou-se atrás de si.

Claro que fujo desse lugar comum de querer ver nele a minha projecção, melhorada, mas seria hipócrita negar que o casaco lhe assenta melhor que a mim.


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