Sexta fui a um concerto no Campo Pequeno. Sofrível. Rockada do meu tempo, mas pouco original. De música para música as tonalidades variavam dispersas entre extremos como os Pink Floyd, o Bowie e até o Elton John e no meio daquilo tudo, apesar do dançável da coisa, faltava som próprio. Sofrível, repito.
Mas não foi por isso que me propus tomar estas notas e sim antes pelos estranhos e preocupantes sintomas que isso acabou por revelar de mim, e eu a prever uma nova era no meu comportamento e a achar que a posso e devo assinalar aqui. Sexta fui a um concerto onde dancei, trauteei, quase ululei e de lá saí de sorriso refastelado, agradecido do convite e das companhias … e nisto sempre sem saber o nome do artista! Ainda ontem tinha o bilhete no bolso das calças mas nem a mera curiosidade de saber ao que tinha ido me fez olhar para ele, nem mesmo a simples pergunta de ocasião no final do concerto que bastava ter sido “mas afinal quem é este gajo?”. Nada.
Dirão que daí não vem grande mal ao mundo. Pois certamente que não, mas com quantos de vós isso já aconteceu? Detalhemo-nos nisto. Presumo que se um dia um dos meus netos tiver o carinho de me convidar para um concerto, o qual certamente muito apreciarei, é quase certo que nunca o interrogarei sobre o nome de quem terei ouvido. E porquê, pela simples razão que um velho deixa de sentir justificável registar e arquivar estes pormenores que só nos são úteis para a eventual repetibilidade, o que no diante da vida dele é pouco provável que venha a acontecer. É simplesmente uma questão de atitude. É por isso que o comportamento dos mais idosos é alheio dessa curiosidade de querer saber os nomes, as classificações e se inclina mais para o usufruto das situações, ainda que, por o fazer com amadurecida serenidade nos leve a presumir, erradamente, tratar-se de alheamento.
Só uma criança ou um velho sairia de um concerto onde esbracejou e cantarolou o tempo todo sem nunca perguntar por quem afinal o tinha feito. Sim, é da idade que falo. Melhor, dos vestígios que se trazem com ela … Ok, levantemos simpáticas e alternativas interrogações: poderá também ter sido (caso não seja a mesma coisa), dos resquícios de moço que ela ainda traz em si, em mim.