A 20 de Junho, escrevia isto:
“Cada hora é mais uma braçada cansada, lançada a custo, e cada dia o princípio de um plano inclinado que tenho repetidamente de subir. Combato uma ansiedade que nunca julguei poder existir. É uma guerra sem inimigos e cujos golpes se desferem dentro de mim; uma contenda que se trava num território que julgava conhecer e do qual tiraria vantagem, mas que é afinal terra armadilhada. Aos poucos fui me refugiando no meu corpo, do meu corpo. Combato já só na metade (para ser rigoroso já é menos que isso) que ainda sobrevive, na parte do meu corpo que agora irei habitar, a que resta, e à qual me agarro desesperadamente. Mas, de inconcebível, é o meu próprio corpo que(m) me quer abater. Não é um espectáculo bonito de se ver, e não tem qualquer sentido deixar aqui uma janela para o espreitar. Há coisas que são mesmo para resolver só connosco (…) ”
Hoje, passados 126 dias sobre os catorze dias que então haviam passado desde o dia em que deixei de fumar, hoje, portanto, fingindo um já-quase-nada, afinal repito-me. Lérias! Que me repito sim, mas por entre-dentes, e repito-me palavra por palavra, articulada entre cada vírgula da vontade estafada que ainda me resiste. E todos os dias me repito. E em todos os momentos me repito. E em cada segundo soa em mim esta vontade repetida, esta quase obscenidade amorfa que já só se limita a tilintar: não! Agora mesmo continuo, exaustivamente, a repetir-me!