E quando acho que não dá para mais, faço uma viagem a 2006, onde assentava num outro diário um carpir mais desfraldado, mais lancinante e desavergonhado. E quem diria que as suas leituras ainda me iriam ser tão uteis. Pois se aquele desgraçado sobreviveu, este, que hoje se faz o mesmo, a pisar as mesmas veredas da vontade, também o conseguirá. Por ‘esta’ altura, gemia então assim:
Cada hora é mais uma braçada cansada, lançada a custo, e cada dia o princípio de um plano inclinado que tenho repetidamente de subir. Combato uma ansiedade que nunca julguei poder existir. É uma guerra sem inimigos e cujos golpes se desferem dentro de mim. Uma contenda que se trava num território que julgava conhecer e do qual tiraria vantagem, mas que afinal está armadilhado. Aos poucos fui me refugiando no meu corpo, do meu corpo. Combato já só na metade que ainda sobrevive, a parte do meu corpo que agora irei habitar, a que resta e à qual me agarro desesperadamente. Mas, de inconcebível, é o meu próprio corpo que(m) me quer abater. E não é um espectáculo bonito de se ver …