Monthly Archives: Abril 2010

a geração (des)educadora

É sempre com perplexidade e depois até atormentado que constato, nas reuniões com os encarregados de educação – ontem foi mais uma – que a verdadeira obstrução à escola e aos alunos no processo de aprendizagem …

… somos nós, os pais.

 

surripiado daqui

por entre o verso e o avesso

Como a falta de rasto das palavras aqui anuncia, este espaço não atravessa uma fase muito prolífera. Nada disto tem a ver com intenções de abandono – ao contrário do que apregoo ali em baixo – mas apenas com a falta de ímpeto para o escrever.

Por sorte resta-me o outro sentido da escrita, quando ao invés de a grafar me lanço no mergulho da sua leitura. Já tenho afirmado várias vezes o abono de poder retirar um duplo prazer deste ócio, o prazer de fazer construções com a escrita, mas, sobretudo, o de mais tarde poder usufruir da sua leitura, da qual retiro, avivo e revivo as memórias que afinal já eram minhas.

Alguns desses trechos que ainda hoje revisito têm cinco, seis anos. Por lá se dispersam pequenos episódios que, mais distantes ou mais presentes, mais vagos ou concisos, mais entusiasmados ou melancólicos, me trazem um espólio de um tempo irrepetível, mas que ainda assim se deixa espreitar por cima do ombro. São-me particularmente gratos aqueles que evocam pedaços do crescimento dos meus filhos, que percorro com o mesmo recolhimento e lenteza de quem vira as páginas a um álbum de fotografias.

Para quem como eu é padecente de uma débil memória essas coisas da escrita-quase-nada algures deixada por aí, num sítio que eu próprio esquecerei, são afinal um relicário que não deverei ignorar. Parte desses textos estão num primeiro blog, que abandonei, sem resguardo de espécie alguma – o que quer dizer que assim que o provedor desse espaço o entender, tudo o que por lá fui deixando acabará por se afundar no vazio de onde nasceu.

Irei trazê-los para aqui então. Desta forma salvaguardarei a sua semi-eternidade (que também este espaço será, fatalmente, um dia, destroço), enquanto nesse exercício me dou ao prazer da reencarnação, levando-me a deambular pelos textos envelhecidos, repassando-os e nisso revisitando o que em mim aconteceu alhures. E quase anseio esse poder, essa estranha magia da escrita que me permite reinventar o que nunca fui e jamais serei, misturando-a em doses improváveis nessa fantasia que afirmo ser o mundo que vivi e que é, afinal, no todo, o meu verso e o avesso.


nota histórica

Esse espalhafato, ali em baixo,  deve ter sido para aí a sétima vez que meti ferrolhos no raio deste blog.

(ainda não percebi o porquê desta minha obssessão pelos anúncios marciais mas presumo que talvez por ser mais estimulante e mais fácil escrever sobre um “fim”, que o estilo dramático é sempre bom companheiro da falta de inspiração.  assim sendo desculpo-me da hipocrisia de insistir em determinar as mortes sucessivas, já quase mecânicas, deste espaço, pois aparentemente permaneço no plano da lógica abstracta do prazer.)


se não há palhaços não há circo

 

 

 

Cada vez hesito mais em deixar aqui algo. Agora, de cada vez que o faço e ainda que poucas, faço-o com vaidade. Depois, sobra-me o rubor. Não devia ser assim. Todas as razões que me aprisionaram a este espaço nasciam dentro de mim, acima de tudo pelo prazer de mais tarde me poder ouvir a mim mesmo, quase um onanismo que aqui me trazia em jeito impetuoso e só. Foi sempre assim que aqui cheguei, de forma não premeditada, depois deixando-me escorregar neste exercício de descarga, quase transe, de onde  resultavam coisas que mais tarde viria bolear com outra cautela. Um diário talvez, se é a isto que se chamará um diário. E um diário não se escreve para se mostrar, escreve-se para nos mostrarmos a nós mesmos e deixará de o ser, ou melhor, torna-se fingido e inútil, se em cada página que nele inscrevo e viro deixar de o preencher com a cumplicidade das coisas que são apenas minhas. Hoje acompanha-me sempre uma interrogação latente sobre quem me irá ler aqui e se este ou aquele lerão aquilo ali e se amanhã essoutro, que tanta gente a espreitar-me por cima do ombro me inquieta. E contenho-me, aperalto-me, revejo duas e três vezes aquilo que irão interpretar do que escrevo, e assim me vou atraiçoando. Depois assisto(me) a criticar-me deste ego, desta coisa do parecer que já nada tem a ver com a vontade, o desejo e liberdade da escrita. E reconhecer isso em nós deixa de ser um prazer.

Mas mais que este embaraço de me saber agora presumido no aparato é aqui voltar e ver que em nenhum recanto de um parágrafo, em nenhuma pausa de vírgula, em qualquer incidente que aqui traga, estou lá eu, ou sequer um breve episódio da vida que em mim conto. Soçobrei e deixei de saber escrever para mim. E como nunca treinei nem tirei prazer de outra forma de escrita que não esta de consumo caseiro, nisso tão longe dessa outra escrita impudica e cuidada que se pode oferecer aos outros sem receios caligráficos e para a qual não tive a sorte do dote, começo a suspeitar que esta escrita, esta minha, a única que alcanço com prazer, afinal, aparenta agonizar. É curioso pensar que há 7 anos atrás pouco mais de meia dúzia de folhas de papel coleccionava com toda a escrita lúdica da minha vida. É provável que haja um fim, seja qual for e que neste reencontre o mesmo clima de infertilidade nas palavras que afinal me acompanhou quase toda a vida, quase tão inapelavelmente como a um filme que, aproximando-se do seu termo, esgotado do seu argumento e suspense, me verá virar-lhe as costas.