(quase) como os heróis da tv

cowboy

 

Ontem, já tarde, combatia o sono perante um filme épico passado no deserto. Preenchia-se de belíssimos episódios de guerra através dos quais se ia destapando um personagem que num percalço de fraqueza tinha acabado por tomar uma opção cobarde. O argumento desenrolava-se então, a partir daí, nessa receita de ir arrolando um sem-número de actos virtuosos, à custa dos quais, o nosso herói, à laia de remição, ia tentando apaziguar essa memória que o perseguia.

Poucos pormenores retenho do filme mas ficou-me a cogitação da altura na qual concluía que, quase sempre, quase todos nós, funcionamos ao contrário desse herói da tv: que a nós nos basta um acto de coragem uma vez na vida para passarmos o resto dela persistindo em pequenos gestos sub-reptícios de cobardia, como se, desleixados, desde então sobre nós já nos achássemos bastante.

Mas convenhamos, acrescento agora, que ser herói é também isso, não o ser, nem o querer parecer, que ser herói pode também ser só essa capacidade decadente de aceitar ir sobrevivendo perante os outros.


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